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Cota de ingressos, contratos duvidosos, taxas de inscrição, bilheteria e cachê são termos constantes para qualquer evento que se desenrole na cena independente, onde diversas bandas são submetidas a boa pergunta: quanto você pagaria para tocar?
Participei efetivamente da cena aqui de São Paulo de 2003 até 2009, acompanhei bandas que ganharam destaque, toquei em eventos vendendo ingresso, organizei eventos com cotas de venda, paguei cachês altos para bandas “grandes” e tive forte contribuição na administração de uma das casas mais famosas da zona sul de São Paulo.
Neste tempo posso dizer que presenciei de tudo, desde a exploração de bandas que estão começando até mesmo organizadores perdendo muito dinheiro por culpa de amadores que não se importam com nada além de seu próprio sucesso.
Presenciei os dois lados da mesma moeda, estive com exploradores e também do lado de bandas que vendiam quantidades absurdas de ingresso para tocar, e digo hoje que a culpa é mais do lado das bandas do que dos produtores e organizadores.
Existem produtoras de eventos que colocam algumas bandas que eles propriamente julgam “grandes” para tocar, e metem juntamente mais trinta e cinco bandas que estão se lançando em busca de um sonho. Estes jovens sonhadores dividirão o rodapé do flyer com o endereço do evento ou alguma informação do tipo “Não jogue este flyer no chão” e ainda venderam sessenta ingressos de vinte reais e suas próprias almas para dividir o palco com aqueles “rapazes de calça apertada e colorida” que sequer estarão lá quando eles se apresentarem, chegarão somente no horário previsto de seu show para “arrasar”.
Os eventos estão ficando cada vez mais cansativos, o público cansa de ver música de má qualidade antes de prestigiar os seus “ídolos” que realmente lhe interessam, aqueles que se sujeitam a tal odisséia raramente vão dar atenção às bandas de abertura que em minha opinião só estão ali para pagar o cachê da banda “grande” para o organizador.
Houve um tempo bom, que todo show de rock contava com 5 ou 6 bandas, uma banda de grande porte e geralmente outras também de boa categoria convidadas por esta para um evento memorável, onde nada se perdia se a casa tivesse qualidade e a cerveja se mantivesse gelada até o fim da noite.
A cena de eventos é dividida em algumas classes, as bandas de abertura, as bandas “grandes”, os organizadores e a casa. Quando é marcado um evento, a casa cede seu espaço e o organizador deve se desdobrar para tudo ocorrer da melhor forma: se responsabiliza pelo equipamento de som (quando a casa não oferece), divulgação, segurança, horário e diversas obrigações, que lhes custam dinheiro, tempo e muito trabalho.
A casa deve se preocupar com o aproveitamento de seu espaço, segurança e o seu principal lucro que é o consumo do “bar”, a banda de abertura tem como obrigação contribuir na divulgação e também levar seu público com a venda de ingressos, enquanto a banda “grande” só aparece na hora do show e tem como desempenho chamar a atenção de público e bandas para o evento.
A meu ver é tudo uma grande equação, onde o público é a principal variante, o organizador e a casa são as razões fundamentais e as bandas as propriedades somatórias, a banda “grande” tende a somar mais bandas interessadas em tocar e as bandas de abertura tendem a trazer maior público para não sair no prejuízo.
As coisas não deveriam ocorrer desta forma, sem público o evento não se desenrola, a casa não lucra, organizador tira do bolso, a banda “grande” não recebe e as bandas de abertura não divulgam o seu trabalho.
Enquanto houver bandas dispostas a vender sessenta ingressos ou cotas absurdas a cena não irá ser diferente, os organizadores tem uma parcela de culpa sim de colocar tantos ingressos para uma banda vender e muitas vezes com um preço salgado, mas afinal é ele que esta colocando o dele na reta em um jogo de sorte onde até mesmo a chuva pode fazer ele tomar um prejuízo mais absurdo que a própria cota.
A casa também deve garantir o dela ao invés de depender somente de uma porcentagem da bilheteria, isso evitaria o fechamento de diversas casas, como ocorre aqui na capital devido à dificuldades financeiras.
As bandas “grandes” devem dar mais valor às bandas de abertura, lembrando que um dia antes de ganhar aquele cachê elas começaram ali também, lutando para divulgar seu material e ter um preço mais justo também contribui para menos exploração.
Sou a favor da venda de ingresso sim, desde que esta seja algo aceitável à medida da data e do evento, afinal que banda pode se apresentar para um público se não consegue arrastar nem seu pai, seu tio ou sequer dez pessoas ou amigos para conferir o seu som?
Muitas bandas que enfrentam essa dificuldade apenas pagam o valor da cota e vão lá subir no palco com suas guitarras desafinadas e sua inexperiência para apresentar um som de má qualidade. Somente pagar os ingressos é positivo apenas ao organizador, se ele permite essa prática às outras bandas não terão o público e a casa ficara sem seu porcentual de consumo.
Lógico que só ter público não é o sinal que a banda tem qualidade, vide garotos de calça colorida que a mídia e a molecada consideram rock hoje em dia.
O problema vai muito além, temos ainda as famosas “panelinhas” que restringem os eventos somente a um grupo de bandas em especial, os corneteiros que só estão em um show para gerar confusão ao invéz de ver rock e a modinha em geral que traz a cada dia mais bandinhas atrás de sucesso, popularidade e “groupies” entupindo uma cena que mal tem espaço para quem já tem estrada.
Dia 19 de março rolou em Santos um belo exemplo de show, o lançamento do dvd do Garage Fuzz que foi exemplar, a banda de destaque convidou outras bandas de qualidade para se apresentarem Dead Fish, Rancore, Zander e Paura e o público não teve que aturar quarenta bandas antes de ver o que interessava no palco.
Fica a dica para as bandas se virarem mais organizando seu próprio evento e se mexerem para conhecer o trabalho que dá produzir um show, ao invéz de reclamar, reclamar e sempre aceitar aquela cota exorbitante de ingressos que nem Deus sabe se realmente vai dar para vender...
Imagem por: @TicoBass
CONTIINUA ...
Muito bom o post. Eu já vivi tudo isto em outro mercado, o da música "gospel" e a sujeirada é sempre igual. Explorados e exploradores. Meu pensamento ainda é o mesmo. JAMAIS pagar para tocar!
ResponderExcluirSucesso sempre, bro!! Abraços!
/Joey